Monday, July 21, 2008

Área poética

Introduzo aqui a área poética deste blogue, com a primeira de algumas compilações - a mais recente:

I

Vou voltar a casa.
Farto de auto-estradas de nojo e andamento.
Volto ao meu velho e renovado contentamento,
Ao fogo que me abrasa…

Quero chegar à próxima saída!
Não posso mais conter,
Nem ficcionar, fazer desaparecer
A vontade de viver
O futuro do passado da minha vida!

Decidir, eis o que quero;
Sentir que estou ao leme,
E que nenhum cruzeiro pode ser sincero
Na alma de quem já não teme…

E o mundo que me deixe
Viver mundanamente à minha maneira!
Não há porta que se feche,
No mundo da minha vida derradeira!

Já sinto o calor da lucidez retornada…
Ah, esse estar na Cruz com um sorriso rasgado,
O quanto invejo esse alívio sagrado,
De volta à primeira estrada…


Há um excesso de certeza,
Ilegal aos olhos do Tempo Perdido,
Que atravessa os momentos de sageza
E o original pecado de ser esclarecido.

Quero não saber, quero descobrir.
Quem posso ser, para onde vou…
Sei apenas que um dia hei-de partir,
À procura de quem nunca me encontrou…

Por enquanto fico no meu lar.
É de lá que partem todas as estradas
De ser de viver e de amar;
É lá que as fúrias são caladas.

Não quero quem viva por mim.
Nem sequer me indique o caminho…
Quero decidir assim,
Frágil e sentintemente sozinho…

Descobrir afinal nunca ter saído
De casa, senão na imaginação!
Acordar de um pesadelo repetido,
Vezes sem conta no meu coração!

II

Não há equilíbrio macroexistencial que resista
Nem álgebras de x’s e y’s sentimentais
Que retenham a ilusão derrotista
Que vaga nos meus salões virginais…

Nem há solução geral
Para o problema sempre concreto e particular,
Da luta do Bem contra o Mal
A cada passo do meu andar.

Nem sequer tempo que suprima
A carência de saber, dominar
Aquilo que me puxa para cima
Sem que o saiba alguma vez explicar…

Porque o não sei?
E é sempre virgem a minha consciência amedrontada…
Não reconheço perfeição e sentido no que andei,
Não pressinto o destino da minha caminhada.

Que sei afinal deste microproblema de Amar e ser?
Carece de uma equação geral de empenho no viver,
De uma correcção particular a cada dia,
De uma revelação sempre inexplorada e sadia….

Mais que tudo carece de incerteza,
De não-saber, de andar às escuras,
Pois é certo que da vã pobreza
Nascem da esperança as fontes mais puras.

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