Thursday, August 27, 2009

Última Compilação

Quando vi o teu sorriso sincero
Despertar na noite escura e fria,
Senti, reservado, tímido, mas vero,
Revelar-se o dom da tua alegria.

Alegria de crer, de viver e de amar,
Em tantas e tantas coisas estás presente…
Tocaste-me com a tua ânsia de largar
Aquilo que é um lugar de ser aparente…

E essa ânsia profunda, esse desprendimento…
Das outras coisas, dos lugares sem sentido
Desconcertou-me, desde o primeiro momento,
Fez-se ternura, fez-se esperança, de um lugar nascido.

Sim, um lugar de energia e novidade. Recriação!
Amizade em estado bruto de geração…
Sem laços, nexos ou causas naturais,
Apenas a pulsão própria dos sentidos vitais…

Proximidade, abertura, confiança.
Não sucede muitas vezes numa vida
Construir uma amizade tão nossa
Que nem a sintamos tão recente e recém-nascida….

Vive em mim vibrante a esperança
De que esta alegria em mim nascida
Frutifique tanto quanto possa
Seja no mundo força revivida!

Se as probabilidades nos apartam ao começo,
Sei que nos une a Fé e nos une a vontade.
E é por isso que para nós peço…
Que Ele leve a força a buscar a Verdade!

26-02-09

Por entre a penumbra dos dias
O tempo passa, sorrateiro.
Vão-se as tristezas, as alegrias
Num espesso nevoeiro.

Cruzam-se, apartam-se os lugares
Ao sabor da ventania.
Resta firme a tua companhia
A afeição do teus olhares

Qu’em mim são memória da tua
Indelével compaixão
Esse carinho, essa afeição
Verdade plena e nua

Da pureza que em nós habita.
Haja luz! Oh! Amizade!
Haja em nós a intimidade
Duma relação bendita!

É por isso que hoje relembro
Com especial emoção
O dia em que me tornei membro
Desse teu coração.

Que de ti recordo a aurora,
Raiar d’inédita graça
Bela por natureza. Agora
Eis o tempo, que te abraça!

Faz-te mulher! Para que tu sejas
Reflexo da inspiração
Criadora. Do ser realização
Nos projectos que almejas.

Amanhã e sempre t’espero ter
A meu lado no momento
Em que o amor do pensamento
Nas nossas acções se faz ver.

Fique aqui este sentimento
Igníssima chama, ardor,
O inexplicável acontecimento
Que chamamos de Amor!

19-05-2007

O memorial dos pequenos grandes momentos
Lembro-me de ti, como o mar lembra a terra
E há em mim uma secreta vontade
De reviver o que de mais profundo encerra
A nossa profunda amizade.

Há em mim um sal fecundo
Feito de sentimento e entrega.
Nasceu do teu ser profundo,
Da tua amizade cega.

Na rápida passagem da vida,
Em certo momento me detive,
Me deteve a graça aparecida
De uma alma que sonhando vive…

Vive para quem ama!
É uma cumplicidade discreta e amável
Esta que me chama, sempre prestável!
E me convida a ser Homem…

Quem me dera regressar uma vez mais
Aos momentos partilhados,
Aos erros corrigidos, aos sonhos esboçados…
Que repetiremos jamais!

Eis que regresso, porque duvido?
A força é a mesma, do vínculo e do fruto!
A terra e o mar comungam de um só atributo,
Esse sal que me é tão querido!

De que é feito? De confiança…
Compõem-no anos de identidade.
Sobeja em tudo a doce lembrança
Do que fomos capazes em amizade…

Aí radica a força que nos mantém de pé!
A existência começa no que é!
No que vence o tempo e o momento,
Até o que nos separa… é o sentimento!

Nem sempre me terei entregue como devia,
Sei-me pequeno, tantas vezes indigno e limitado.
Uma tão grande alegria de ser amado
Exige uma grande sabedoria…


Há depois e sempre a tua vitalidade,
Força de vontade, coragem!
Essa energia repleta de verdade!
Que é de Deus poderosa imagem…

Sabemos os dois que sem Ele nada seria –
Quem dispõe, quem nos elege:
A confiança que construímos, que rege
Esta nossa imensa alegria!

Partilhamos um mesmo sonho de amor:
Segui-Lo, conhecê-Lo e ao seu reino de paz!
Muitas vezes invejo o teu fervor,
Com que te entregas ao que Ele em ti faz…

Nem sempre o tenho sabido compreender,
Oxalá pudesse imitá-lo!
Sei, no entanto, uma força haver
Que a cada dia me permite guardá-lo

No meu coração, onde estás marcada
Com um selo gravado ao peito.
És da minha raça, és uma grande aliada
Que me compreende e ao que tenho feito…

Tenho saudades de tudo e do futuro saudade.
Sei que serás grande, Deus o queira!
Dezoito anos são uma bela idade,
No curto tempo da vida que se esgueira…

Acredita que estarei à tua espera
Quando menos esperares que esteja…
Tenho comigo a esperança sincera
De que o amanhã assim seja!

Que o mesmo destino que criou
Saiba preservar o que é belo:
O que há entre nós, este elo…
O que Deus uniu, ninguém separou!
21-10-2007
Encanto sublimado
I
Encanto sublimado
Este que de ti se apodera.
E aquece, e faz consolado
Aquele que te espera.

Espera. No teu mundo nada
Mais há que esperar!
A tua mansidão doada
Tem o dom de libertar.

Pois te sinto e te penso;
Porém o que prevalece
É a tua espontaneidade.

A alegre mocidade
Que a alma sempre esquece
Mas permanece sepultada

Esperando a ressurreição,
Sensível impulso de redenção
Que provém do fundo do teu ser.

Redimido sou amado.
Sinto-me querido, justificado,
Por quanto me queiras conhecer.

Acaso não já me conheces?
Tu, que não duvidas,
Ou se duvidas não estremeces?

Na feminilidade da lua,
Tuas virtudes, aparecidas
Expõem tua verdade nua.

Ela é sensível, visível.
Mas, inefável apelo,
Seu pensamento é desprezível.

Belo é o seu zelo.
II

O poeta, falso que é,
Mas de sua arte humilde,
Enleva-se de ti.

E o zelo da tua fé
Iguamente humilde
Se basta a si.

Basta porque transborda
De força, ímpeto colossal
De Amor existencial.

O há outro, que o nome mereça?
Não acaso é ele, poder genial,
Que nos funda a humanidade?

Que a verdade nos conheça!
Enfim, que esqueça... o que somos
Na essência. Tão só a existência!

Sim, é essa que tu me lembras.
É essa que eu espero, contigo,
Sem intuito mais que esperar.

Em tudo isso o que mais me cria
Felicidade é nada esperar
Senão que apareças, na tua identidade.

Assim brota a poesia,
Falsa ou verdadeira.
De ti aparecida
Filosofia primeira.
13-02-07
Esta noite não consigo dormir,
Horas passam, cheias de vazio e podridão;
Insónia longa e maldita, que me faz sentir
O indelével apelo da solidão.

Muitas coisas vi nos longos dias,
Que passam, cativos da escuridão,
Nada porém mais meigo e luminoso,
Do que aquilo que me dizias....
Nesse outro tempo, longínquo e saudoso,
Que tanto me lembra essa doce mansidão

Opressora, ditadora, tirana,
Essa vontade de olhar para trás
E de ver aquilo hoje é claro.
Que o preço dessa maldição profana
Será sepre tão caro,
Quanto esta lembrança dolorosa me apraz.....

Que pensamento estes? Que caminho estreito
Se trilha por entre as dúvidas e inquietações?
Que sentimento é este que trago a peito....
Me enche de saudades e hesitações?

Por tudo isto, certeza uma só
Una, indubitável, firme mas vã:
Deus me perdoe e de mim tenha dó
Pelo que fizer no dia de amanhã.

07-07-2005

Sublime e relutante penumbra,
Reflexo de pureza e solidão,
Sob a luz das estrelas se vislumbra
O brilho ofuscante da podridão.

No céu, quieto e escuro,
Transparece a apatia de uma nação,
A indiferença da multidão,
A humanidade, o carácter inseguro

Deste mundo que aqui
Me chama intensa e vivamente.
Agir, hoje, agora....

Espero por ti,
Ardentemente.....
E esta noite vou daqui para fora.

26-06-2006

Essas vagas calmas que me agitam
Do meu velho estado perene,
São a luz que de ti me encadeia,
Descendo do Céu tão solene...

Aquela que eu sei sempre vir,
Que nunca se atrasa ou perece
Aquela, como nenhuma, que aquece
Em mim a vaga do profundo devir...

Ah, aquela que eu sei ser minha
Por identidade e luminosa vocação.
Aquela que eu sei ser divina
Reflexão do espelho do meu coração!

Luz uma só, espectro unido de seres
Que em mim fecundamete se agregam
É esta, o reflexo de teres
Esses olhos que tanto me cegam.

Cegueira ou lucidez, não o sei.
Se alguma vez o quisera saber,
Seria de mim o que não dei
–O amor que ousara prometer.

Que me importa afinal?
Sou feliz como sou porque sou.
Não sei o que seja o final
De uma vida que agora começou!

Sinto, sei, sou, de nada mais careço.
Tudo é o que dou, o que quero e conheço!
O mais, leve-O Ele, se algum dia
Fizer de mim a Sua alegria...

Quando eu souber querer e amar,
Ser livre, a minha voz escutar.
Ser por ser, sem mais querer
Esperar dos escombros um dia... renascer

18-05-07

Coisas funestas da vida e da morte,
Discussões duras e acesas,
Insultos da pior sorte.

São estas as indelicadezas
Que fazem o coração forte
E alheio à sua natureza.

É esta a cisão, é este o corte
Que fere letalmente a minha pureza.

Soa em mim do remorso o clamor,
Chora a alma pelas ofensas indevidas,
Dói a futilidade das questões esquecidas.

Subsiste ainda assim o fervor
Das paixões acérrimas, embora sofridas;
Causa de bem e mal, és tu: Amor.

04-04-06

Erros pesados, pungentes crimes,
Frutos proibidos da cumplicidade
De amor, vício e saudade,
Ofensas às coisas mais sublimes

Que neste mundo ousaste colocar.
Ousaste dotar-nos da força de amar
Para que nós, infiéis que somos,
Fôssemos enfim, humanamente mortais
Para que da graça de que dispomos
Não fizessemos mais
Do que enfim ceder
Às atracções fatais,
Pactuar com o mais pungente pecado,
Viver perdidos no lado errado,
Nas trevas perecer, sem nada ver,
Sem perceber....

Porquê, porquê senhor?
Perdoai-nos, sê fonte de amor
Pois se hoje o mal em nós domina
Amanhã uma nova luz se abrirá
Clara, lúcida e divina
E o teu destino cumprir-se-á.

19-09-05