Tuesday, July 22, 2008

Compilação III

Mais uma pequena compilação:


O nada que é tudo


Deus morreu. Às mãos nossas morreu.
Mataram-no os homens, sedentos de poder
E hoje me encontro viril e triste
Desalentado de ser e do que demais existe
Pelo que aconteceu.

Que me importa, porém, ter Deus morrido?
Se vive na minha fé, chagado e ferido?
Que me importa tê-lo morto, martirizado,
Se ele me recria, eternamente renovado?

Que me importa ser triste?
Que é a tristeza senão ser?
Não a teve ele até morrer?
O que seja existir
Será medo de querer partir?

Ah, quem mo dera se o soubesse…
Seria feliz, certo do que quisessse.
Por ora sou triste, mas é tão natural sê-lo,
Que não penso no que demais existe
Senão em vivê-lo.

O nada que é tudo.
Existir e nada mais.
Ser Homem, ser gente
E não pretender eternamente
Ficar à beira do cais…

8-10-07

Obituário

Este é o meu obituário.
Sei que estou vivo,
Passageiramente ordinário
Ser humano que sou cativo

De uma prisão que eu próprio ergui,
De um rumo que tracei,
De uma vida que construí,
E em que me estreitei.

Sem que Deus, porém, me desse vistas largas
Uma liberdade misericordiosa de cobrir as faltas
De uma massa aderente repleta de perdão
Que, afectivamente, constitui o meu coração.

Redimi-me, recriei-me.
Morri e ressuscitei.
Quem fui eu?
Sei que amei, nada mais sei.

30-1-07

Monday, July 21, 2008

Compilação II

Coisas mais antigas:

Omiti as mais "sentimentais", em especial as que estão dirigidas a alguém em concreto.

As palavras são vãs
Vã é também a alma
Quando não tem a lucidez e a calma
De regressar à origem das suas manhãs

De claridade e de vida,
De felicidade esqucida
Que se ocultam por trás do seu ser.

E se perpétua, sem querer
O existencial vazio do nada,
Por que a plenitude aparecida é renegada.

Correm os dias assim soltos,
Vazios de tudo, cheios do que não sei
E retornam, desenvoltos
Àquilo por que já passei...

Não há um eterno retorno
Que se consume num raio de luz?
Tudo se contradiz, o que reluz
É o logro de um falso adorno

Que esconde a verdadeira face do ser.
Se a força existe, é pureza,
Se existe é pura incerteza,
É a dúvida de conhecer.

O vazio humilha, repudia
Porque algo de mais existe.
Se não, como teria alegria
Em lugar do que hoje me faz triste?

Deus é quem existe? Resta, revelada,
Um pouco da sua essência?
Ademais, sobeja a paciência
De uma existência eternamente adiada...

Quando, essa que me prometes e que espero?
Quando, a que auguro e pressinto sem ver?
Hoje e sempre – me dizes – tenho o vero
Condão de novamente renascer.

1-12-06

Coisas funestas da vida e da morte,
Discussões duras e acesas,
Insultos da pior sorte.

São estas as indelicadezas
Que fazem o coração forte
E alheio à sua natureza.

É esta a cisão, é este o corte
Que fere letalmente a minha pureza.

Soa em mim do remorso o clamor,
Chora a alma pelas ofensas indevidas,
Dói a futilidade das questões esquecidas.

Subsiste ainda assim o fervor
Das paixões acérrimas, embora sofridas;
Causa de bem e mal, és tu: Amor.

4-4-06

Na calma cintilante da maresia
Que é a cidade nocturna a brilhar,
Vislumbro do futuro esse meu dia
Em que me hei-de desnudar.

Dia, sagrado pela força de milénios...
Escondido, abafado pelo meu ser
Em que é visceral, profundo reviver
Do que me é sem ser. Génios

Quantos captam em si linguagens cerradas
Que s’entrecruzam, antes da alvorada.
Quantos o sentem na pele desnudada,
Sem fúrias caladas...

Há genialidade no Homem fundada,
Outra que a sua própria existência?
De que outra fonte, que outra essência
Brota a pureza imaculada?

Que assunção se debate, limiar da vida
No sedutor auspício da revelação?
Que sopro leve, que fascinação
Me evoca esta memória querida

Que hoje e para sempre revivida
Me engrandece e verga perante mim?
Quem me habita e me seduz assim,
Nesta minha alma perdida?

Amor uno, eterno, incondicional:
As míseras palavras o não alcançam.
Gestos repletos de tensão existencial
Dêem vida aos que não descansam!

Interrogação fatal, perpétua talvez
Permaneça tingida na cor do meu ser.
Seja a resposta eterno aparecer
Como o do Verbo, que um dia se fez!

13-9-06

Meu Deus,
Porque sois tão distante?
Perdido na escuridão
Neste mundo, errante,
Ansisoso pelo teu perdão,
Sou um ser expectante.

Turvado pela futilidade a que me sujeito,
Heremético na assunção desta vida,
Desespero pela tua mão querida,
Sob a luz do teu explendor te espreito.

Dá-me Senhor hoje novos horizontes,
Além da efémera e esquecida vivência,
Que aos outros seja dádiva a minha liberdade.

Que no deserto da mediocridade sejam fontes
De uma nova etérea experiência
Da autêntica e gratuita santidade.

15-2-06

Na serenidade leda da manhã
Reluz o belo rosto, delicado.
Terna vontade, alegria sã,
Fazem-me sentir doce e amado.

O dia em que te vejo corada
Pelo riso ardente da tua alma
Pela voz cadente, pela tua calma
De rosa colhida e desfolhada

Que em mim irradia esse odor
Do afecto de uma luz desvendada,
Brilhando na escuridão da vida.

Haja verso, palavra aparecida
Numa inspiração arrebatada
Que descreva tão sublime Amor!

17-5-06

É noite fria e escura
Neste lugar crispado
No alto cintila a luz segura
Do céu estrelado

Sinto a brisa suave que me afaga
Muito embora náo a sinta.
Pois não há quem na minha alma apague
Luz tão clara e tão distinta.

Na verdade nem a noite vejo.
Somente a persinto no pensamento
Como a pureza que almejo,
Como a plenitude do entendimento.

De um Ser presente mas distante
Persistente mas relutante,
Conquanto me oponho, me afasto.
Inócuo sonho! De um verde pasto

Que nele me firme para a eternidade.
Oh loucura, oh mocidade
Hoje me enche as veias de fulgor...
Será que esse devaneio é Amor?

11-2-06

Noite quente e serena,
Calma pentrante e tranquila,
Trouxe-a a brisa amena
A luz da estrela que cintila.

Remiscência de paz
No pensamento perdida
Vontade desejada mas esquecida.
Ofuscou-a a sociedade estulta,
Sua alma oculta, enfim incapaz.

Tua vinda espero ardentemente
Tua falta sinto com pesar
No mundo profano e demente
És único guia na vontade de amar.

Jesus de Nazaré é o teu nome.
Tua nascença vem de ser celebrada.
Crença esquecida, jamais reavivada,
Pois que a celebração perdeu seu motivo
A ociosidade reina, por entre a fome
Simula, representa o ambiente festivo.

Mas hoje tudo se detém
Se converte por força da tua fé,
Se renova na tua Paz universal.

Minha alma se prostra, de Ti advém
E o restício profundo deste Natal
É a força que me mantém de pé.

8-10-07

Noite triste obscura
Cruel e amarga dureza
É a que emerge da fina doçura
Da mais sublime delicadeza.

Por entre o nobre sentimento,
O silêncio da penumbra se eleva.
Sobeja solidão e esquecimento;
Onde havia amor, há agora treva.

Resta como ideia no pensamento
A lucidez da união apartada,
Destroçada sem temor ou piedade.

Estreita enfim é esta saudade!
A amargura, a dor, o confrangimento
De duas almas perdidas no vazio do nada.

11-11-05

Noites de solidão,
Lenta penumbra,
Escuridão,
Sob a qual nada se vislumbra
Senão a ténue sombra da podridão.

Estrelas,
Em todo o seu esplendor,
Repletas de brilho, luz e emoção,
Me fazem lembrar todas aqulelas
Noites em que o meu amor
Foi fraco na sua percpepção

Incapaz, incompetente
Displicente, ingénuo ou apenas omisso,
Alheio, indiferente.
Mas que atitude perante esta gente,
Que amor é esse que tanto cobiço?

E se tanto o almejo
Porquê impotente,
Hoje assisto à desagregação?

Por que, se é triste o que vejo,
Não é imponente
A minha intrevenção?

Fraquezas do carácter humano,
Débil assunção essa,
Dúbia rectidão...
Uma nova e eterna vida que começa,
Hoje e sempre que neste espírito mundano
Haja esperança de etérea salvação.

15-2-06

Pequena e frágil criatura,
Tão digna aos olhos de Deus,
Perdoa quem te profana a alvura
Pura de quem vem dos Céus...

Perdoa a intolerância rude
A fétida obstinação
De quem não pôde como eu pude
Olhar a tua criação

Vendo-a sempre, com coerência,
Sendo constante e presente,
Complacente perante a gente
Que falece sem complacência.

Enfim vendo, como em tudo
Com a larga vista do Criador
Sabendo que ele criou, contudo,
O Homem num acto de Amor.

O Homem – da concepção à maternidade,
Ao sofrimento da violada virgindade!
Ao abandono, à exclusão, à clandestinidade!
Ao suborno da dignidade!

Sempre. Digno até ao fim. Quanto ser possa.
Contra a dura humana troça.
Mas não contra a condição sua,
Tão verdadeira quanto nua

No extremo da aflição.
Não basta haver perdão.
Urge haver inclusão
Para que um dia chegue, o da opção,
O da libertação
Da tua vida,
Meu irmão!

N.A. O poema não tem qualquer implicação sobre a posição que assumi por altura do referendo da IVG)

27-2-06

Sublime e relutante penumbra,
Reflexo de pureza e solidão,
Sob a luz das estrelas se vislumbra
O brilho ofuscante da podridão.

No céu, quieto e escuro,
Transparece a apatia de uma nação,
A indiferença da multidão,
A humanidade, o carácter inseguro

Deste mundo que aqui
Me chama intensa e vivamente.
Agir, hoje, agora....

Espero por Ti,
Ardentemente.....
E esta noite vou daqui para fora.

26-6-05

Hei-de compilar mais...

Área poética

Introduzo aqui a área poética deste blogue, com a primeira de algumas compilações - a mais recente:

I

Vou voltar a casa.
Farto de auto-estradas de nojo e andamento.
Volto ao meu velho e renovado contentamento,
Ao fogo que me abrasa…

Quero chegar à próxima saída!
Não posso mais conter,
Nem ficcionar, fazer desaparecer
A vontade de viver
O futuro do passado da minha vida!

Decidir, eis o que quero;
Sentir que estou ao leme,
E que nenhum cruzeiro pode ser sincero
Na alma de quem já não teme…

E o mundo que me deixe
Viver mundanamente à minha maneira!
Não há porta que se feche,
No mundo da minha vida derradeira!

Já sinto o calor da lucidez retornada…
Ah, esse estar na Cruz com um sorriso rasgado,
O quanto invejo esse alívio sagrado,
De volta à primeira estrada…


Há um excesso de certeza,
Ilegal aos olhos do Tempo Perdido,
Que atravessa os momentos de sageza
E o original pecado de ser esclarecido.

Quero não saber, quero descobrir.
Quem posso ser, para onde vou…
Sei apenas que um dia hei-de partir,
À procura de quem nunca me encontrou…

Por enquanto fico no meu lar.
É de lá que partem todas as estradas
De ser de viver e de amar;
É lá que as fúrias são caladas.

Não quero quem viva por mim.
Nem sequer me indique o caminho…
Quero decidir assim,
Frágil e sentintemente sozinho…

Descobrir afinal nunca ter saído
De casa, senão na imaginação!
Acordar de um pesadelo repetido,
Vezes sem conta no meu coração!

II

Não há equilíbrio macroexistencial que resista
Nem álgebras de x’s e y’s sentimentais
Que retenham a ilusão derrotista
Que vaga nos meus salões virginais…

Nem há solução geral
Para o problema sempre concreto e particular,
Da luta do Bem contra o Mal
A cada passo do meu andar.

Nem sequer tempo que suprima
A carência de saber, dominar
Aquilo que me puxa para cima
Sem que o saiba alguma vez explicar…

Porque o não sei?
E é sempre virgem a minha consciência amedrontada…
Não reconheço perfeição e sentido no que andei,
Não pressinto o destino da minha caminhada.

Que sei afinal deste microproblema de Amar e ser?
Carece de uma equação geral de empenho no viver,
De uma correcção particular a cada dia,
De uma revelação sempre inexplorada e sadia….

Mais que tudo carece de incerteza,
De não-saber, de andar às escuras,
Pois é certo que da vã pobreza
Nascem da esperança as fontes mais puras.