Thursday, August 27, 2009

Última Compilação

Quando vi o teu sorriso sincero
Despertar na noite escura e fria,
Senti, reservado, tímido, mas vero,
Revelar-se o dom da tua alegria.

Alegria de crer, de viver e de amar,
Em tantas e tantas coisas estás presente…
Tocaste-me com a tua ânsia de largar
Aquilo que é um lugar de ser aparente…

E essa ânsia profunda, esse desprendimento…
Das outras coisas, dos lugares sem sentido
Desconcertou-me, desde o primeiro momento,
Fez-se ternura, fez-se esperança, de um lugar nascido.

Sim, um lugar de energia e novidade. Recriação!
Amizade em estado bruto de geração…
Sem laços, nexos ou causas naturais,
Apenas a pulsão própria dos sentidos vitais…

Proximidade, abertura, confiança.
Não sucede muitas vezes numa vida
Construir uma amizade tão nossa
Que nem a sintamos tão recente e recém-nascida….

Vive em mim vibrante a esperança
De que esta alegria em mim nascida
Frutifique tanto quanto possa
Seja no mundo força revivida!

Se as probabilidades nos apartam ao começo,
Sei que nos une a Fé e nos une a vontade.
E é por isso que para nós peço…
Que Ele leve a força a buscar a Verdade!

26-02-09

Por entre a penumbra dos dias
O tempo passa, sorrateiro.
Vão-se as tristezas, as alegrias
Num espesso nevoeiro.

Cruzam-se, apartam-se os lugares
Ao sabor da ventania.
Resta firme a tua companhia
A afeição do teus olhares

Qu’em mim são memória da tua
Indelével compaixão
Esse carinho, essa afeição
Verdade plena e nua

Da pureza que em nós habita.
Haja luz! Oh! Amizade!
Haja em nós a intimidade
Duma relação bendita!

É por isso que hoje relembro
Com especial emoção
O dia em que me tornei membro
Desse teu coração.

Que de ti recordo a aurora,
Raiar d’inédita graça
Bela por natureza. Agora
Eis o tempo, que te abraça!

Faz-te mulher! Para que tu sejas
Reflexo da inspiração
Criadora. Do ser realização
Nos projectos que almejas.

Amanhã e sempre t’espero ter
A meu lado no momento
Em que o amor do pensamento
Nas nossas acções se faz ver.

Fique aqui este sentimento
Igníssima chama, ardor,
O inexplicável acontecimento
Que chamamos de Amor!

19-05-2007

O memorial dos pequenos grandes momentos
Lembro-me de ti, como o mar lembra a terra
E há em mim uma secreta vontade
De reviver o que de mais profundo encerra
A nossa profunda amizade.

Há em mim um sal fecundo
Feito de sentimento e entrega.
Nasceu do teu ser profundo,
Da tua amizade cega.

Na rápida passagem da vida,
Em certo momento me detive,
Me deteve a graça aparecida
De uma alma que sonhando vive…

Vive para quem ama!
É uma cumplicidade discreta e amável
Esta que me chama, sempre prestável!
E me convida a ser Homem…

Quem me dera regressar uma vez mais
Aos momentos partilhados,
Aos erros corrigidos, aos sonhos esboçados…
Que repetiremos jamais!

Eis que regresso, porque duvido?
A força é a mesma, do vínculo e do fruto!
A terra e o mar comungam de um só atributo,
Esse sal que me é tão querido!

De que é feito? De confiança…
Compõem-no anos de identidade.
Sobeja em tudo a doce lembrança
Do que fomos capazes em amizade…

Aí radica a força que nos mantém de pé!
A existência começa no que é!
No que vence o tempo e o momento,
Até o que nos separa… é o sentimento!

Nem sempre me terei entregue como devia,
Sei-me pequeno, tantas vezes indigno e limitado.
Uma tão grande alegria de ser amado
Exige uma grande sabedoria…


Há depois e sempre a tua vitalidade,
Força de vontade, coragem!
Essa energia repleta de verdade!
Que é de Deus poderosa imagem…

Sabemos os dois que sem Ele nada seria –
Quem dispõe, quem nos elege:
A confiança que construímos, que rege
Esta nossa imensa alegria!

Partilhamos um mesmo sonho de amor:
Segui-Lo, conhecê-Lo e ao seu reino de paz!
Muitas vezes invejo o teu fervor,
Com que te entregas ao que Ele em ti faz…

Nem sempre o tenho sabido compreender,
Oxalá pudesse imitá-lo!
Sei, no entanto, uma força haver
Que a cada dia me permite guardá-lo

No meu coração, onde estás marcada
Com um selo gravado ao peito.
És da minha raça, és uma grande aliada
Que me compreende e ao que tenho feito…

Tenho saudades de tudo e do futuro saudade.
Sei que serás grande, Deus o queira!
Dezoito anos são uma bela idade,
No curto tempo da vida que se esgueira…

Acredita que estarei à tua espera
Quando menos esperares que esteja…
Tenho comigo a esperança sincera
De que o amanhã assim seja!

Que o mesmo destino que criou
Saiba preservar o que é belo:
O que há entre nós, este elo…
O que Deus uniu, ninguém separou!
21-10-2007
Encanto sublimado
I
Encanto sublimado
Este que de ti se apodera.
E aquece, e faz consolado
Aquele que te espera.

Espera. No teu mundo nada
Mais há que esperar!
A tua mansidão doada
Tem o dom de libertar.

Pois te sinto e te penso;
Porém o que prevalece
É a tua espontaneidade.

A alegre mocidade
Que a alma sempre esquece
Mas permanece sepultada

Esperando a ressurreição,
Sensível impulso de redenção
Que provém do fundo do teu ser.

Redimido sou amado.
Sinto-me querido, justificado,
Por quanto me queiras conhecer.

Acaso não já me conheces?
Tu, que não duvidas,
Ou se duvidas não estremeces?

Na feminilidade da lua,
Tuas virtudes, aparecidas
Expõem tua verdade nua.

Ela é sensível, visível.
Mas, inefável apelo,
Seu pensamento é desprezível.

Belo é o seu zelo.
II

O poeta, falso que é,
Mas de sua arte humilde,
Enleva-se de ti.

E o zelo da tua fé
Iguamente humilde
Se basta a si.

Basta porque transborda
De força, ímpeto colossal
De Amor existencial.

O há outro, que o nome mereça?
Não acaso é ele, poder genial,
Que nos funda a humanidade?

Que a verdade nos conheça!
Enfim, que esqueça... o que somos
Na essência. Tão só a existência!

Sim, é essa que tu me lembras.
É essa que eu espero, contigo,
Sem intuito mais que esperar.

Em tudo isso o que mais me cria
Felicidade é nada esperar
Senão que apareças, na tua identidade.

Assim brota a poesia,
Falsa ou verdadeira.
De ti aparecida
Filosofia primeira.
13-02-07
Esta noite não consigo dormir,
Horas passam, cheias de vazio e podridão;
Insónia longa e maldita, que me faz sentir
O indelével apelo da solidão.

Muitas coisas vi nos longos dias,
Que passam, cativos da escuridão,
Nada porém mais meigo e luminoso,
Do que aquilo que me dizias....
Nesse outro tempo, longínquo e saudoso,
Que tanto me lembra essa doce mansidão

Opressora, ditadora, tirana,
Essa vontade de olhar para trás
E de ver aquilo hoje é claro.
Que o preço dessa maldição profana
Será sepre tão caro,
Quanto esta lembrança dolorosa me apraz.....

Que pensamento estes? Que caminho estreito
Se trilha por entre as dúvidas e inquietações?
Que sentimento é este que trago a peito....
Me enche de saudades e hesitações?

Por tudo isto, certeza uma só
Una, indubitável, firme mas vã:
Deus me perdoe e de mim tenha dó
Pelo que fizer no dia de amanhã.

07-07-2005

Sublime e relutante penumbra,
Reflexo de pureza e solidão,
Sob a luz das estrelas se vislumbra
O brilho ofuscante da podridão.

No céu, quieto e escuro,
Transparece a apatia de uma nação,
A indiferença da multidão,
A humanidade, o carácter inseguro

Deste mundo que aqui
Me chama intensa e vivamente.
Agir, hoje, agora....

Espero por ti,
Ardentemente.....
E esta noite vou daqui para fora.

26-06-2006

Essas vagas calmas que me agitam
Do meu velho estado perene,
São a luz que de ti me encadeia,
Descendo do Céu tão solene...

Aquela que eu sei sempre vir,
Que nunca se atrasa ou perece
Aquela, como nenhuma, que aquece
Em mim a vaga do profundo devir...

Ah, aquela que eu sei ser minha
Por identidade e luminosa vocação.
Aquela que eu sei ser divina
Reflexão do espelho do meu coração!

Luz uma só, espectro unido de seres
Que em mim fecundamete se agregam
É esta, o reflexo de teres
Esses olhos que tanto me cegam.

Cegueira ou lucidez, não o sei.
Se alguma vez o quisera saber,
Seria de mim o que não dei
–O amor que ousara prometer.

Que me importa afinal?
Sou feliz como sou porque sou.
Não sei o que seja o final
De uma vida que agora começou!

Sinto, sei, sou, de nada mais careço.
Tudo é o que dou, o que quero e conheço!
O mais, leve-O Ele, se algum dia
Fizer de mim a Sua alegria...

Quando eu souber querer e amar,
Ser livre, a minha voz escutar.
Ser por ser, sem mais querer
Esperar dos escombros um dia... renascer

18-05-07

Coisas funestas da vida e da morte,
Discussões duras e acesas,
Insultos da pior sorte.

São estas as indelicadezas
Que fazem o coração forte
E alheio à sua natureza.

É esta a cisão, é este o corte
Que fere letalmente a minha pureza.

Soa em mim do remorso o clamor,
Chora a alma pelas ofensas indevidas,
Dói a futilidade das questões esquecidas.

Subsiste ainda assim o fervor
Das paixões acérrimas, embora sofridas;
Causa de bem e mal, és tu: Amor.

04-04-06

Erros pesados, pungentes crimes,
Frutos proibidos da cumplicidade
De amor, vício e saudade,
Ofensas às coisas mais sublimes

Que neste mundo ousaste colocar.
Ousaste dotar-nos da força de amar
Para que nós, infiéis que somos,
Fôssemos enfim, humanamente mortais
Para que da graça de que dispomos
Não fizessemos mais
Do que enfim ceder
Às atracções fatais,
Pactuar com o mais pungente pecado,
Viver perdidos no lado errado,
Nas trevas perecer, sem nada ver,
Sem perceber....

Porquê, porquê senhor?
Perdoai-nos, sê fonte de amor
Pois se hoje o mal em nós domina
Amanhã uma nova luz se abrirá
Clara, lúcida e divina
E o teu destino cumprir-se-á.

19-09-05

Saturday, December 6, 2008

Compilação IV

Venho por estes dias pensando
No que vai e vem e é engano…
Que nas malhas do tempo me vai entregando,
E nas entranhas fazendo dano.

Venho por estes dias sonhando
No que é plano e colorido,
Repleto do que vai chegando
Ao espaço, futuro perdido.

Venho por estes dias esquecendo
O que me prende e me afasta do Amor,
Os momentos em que vou falecendo,
Apagando de mim a minha Cor…

Vou por estes dias entrevendo
Essa Cor que não se apaga:
Aquela a que chamo Amor, querendo
Expressar essa mão que me afaga…

Expressar Deus feito sentimento e paixão,
Feito amizade, recriação, novidade….
Perceber e melhor ser a oblação
Que brota da fonte da eternidade…

24-10-2008

Vou voltar a casa.
Farto de auto-estradas de nojo e andamento.
Volto ao meu velho e renovado contentamento,
Ao fogo que me abrasa…

Quero chegar à próxima saída!
Não posso mais conter,
Nem ficcionar, fazer desaparecer
A vontade de viver
O futuro do passado da minha vida!

Decidir, eis o que quero;
Sentir que estou ao leme,
E que nenhum cruzeiro pode ser sincero
Na alma de quem já não teme…

E o mundo que me deixe
Viver mundanamente à minha maneira!
Não há porta que se feche,
No mundo da minha vida derradeira!

Já sinto o calor da lucidez retornada…
Ah, esse estar na Cruz com um sorriso rasgado,
O quanto invejo esse alívio sagrado,
De volta à primeira estrada…

08-04-2008





Uma incursão na poesia infantil:






Natal


É tempo de vigiar,
De estar atento aos irmãos.
Pois está prestes a chegar
Jesus ao nosso coração.

Ele volta a nascer
Passados dois mil anos
Sempre que queiramos ser
Verdadeiros seres humanos.

Sempre que saibamos ver
Que não vivemos sozinhos.
E que Deus se vai esconder
No rosto dos mais pequeninos.

Não nasce só em Belém
Mas aqui e em todo o lado
Onde haja sempre quem
Caminhe com Jesus ao lado.


E nesta ocasião especial
Recordamos que Jesus nasceu
Primeiro, no dia que é Natal;
Depois, em cada irmão seu.

Jesus é nosso irmão
E Deus é Pai de todos nós,
É uma alegria ter a protecção
De Deus, que não nos deixa sós!

O importante é lembrar
O que é importante no Natal:
Saber com os outros recordar
Que veio ao mundo um Menino tão especial!








01-12-2008














Natal,

Tempo de redenção,
Arrependimento,
Preparação,
Entretenimento.

Tempo para ser feliz,
Intensamente possuido,
Pelo consumismo opressor,
Santo tempo esquecido.

Tempo de comprar e vender,
Dar e receber,
E no meio de tudo esquecer
A sua verdadeira razão de ser

Engano,
Aparência, ilusão material
Enfeite, fachada, esquecimento total.

Estado espiritual,
Que poucos atingem,
E muitos procuram,
Desconhecem, ou ignoram.

Santa salvação,
Vazio mundano,
Nascimento desprezado,
Sentimento abafado.

Cruz humana,
Dinheiro e tempo perdidos,
Homens reconciliados,
Perdidos, desencontrados.

Fogo universal,
Que ilumina aquilo que somos,
Homens de Bem e Mal,
Que ainda celebram o Natal.







10-2003





A menina de Arroios










Clara, firme, luminosa,
Assim se mostra por hoje a cidade;
Foi-se-lhe o bulício, está glamourosa
A Velha Lisboa, na flor da idade.

O seu esplendor é soalheiro
E os meus pés abrem caminhos de verdade
Por entre as ruelas onde paira o dia inteiro
O perfume da menina-cidade.

A menina de Arroios percorre as ruas
E elas são todas suas sem que tenha lá estado…
São passadeiras vermelhas cruas
Onde se passeia o seu balançado…

E ao fundo a Igreja se ergue em flor
Junto ao novo prédio a erguer
Na encruzilhada de escorreito Amor
Que as duas ruas definem no meu Ser…

Escorre bem lá no fundo da Alma
Da cidade viva cheia de vivos matizes
A flor do Amor que se colhe na calma
De mãos dadas com os sonhos mais felizes!

Desfolhá-la é sentir as praças, as esquinas,
As lojas, os prédios, o tráfego e o mercado
O movimento perpétuo das buzinas…
O teu som em mim abafado!

Eterno regresso da pacata vida
Que o Amor tem nas ruas de Arroios,
Cruzando-se veloz com a saída
Da paragem dos comboios!






09-10-2008

Tuesday, July 22, 2008

Compilação III

Mais uma pequena compilação:


O nada que é tudo


Deus morreu. Às mãos nossas morreu.
Mataram-no os homens, sedentos de poder
E hoje me encontro viril e triste
Desalentado de ser e do que demais existe
Pelo que aconteceu.

Que me importa, porém, ter Deus morrido?
Se vive na minha fé, chagado e ferido?
Que me importa tê-lo morto, martirizado,
Se ele me recria, eternamente renovado?

Que me importa ser triste?
Que é a tristeza senão ser?
Não a teve ele até morrer?
O que seja existir
Será medo de querer partir?

Ah, quem mo dera se o soubesse…
Seria feliz, certo do que quisessse.
Por ora sou triste, mas é tão natural sê-lo,
Que não penso no que demais existe
Senão em vivê-lo.

O nada que é tudo.
Existir e nada mais.
Ser Homem, ser gente
E não pretender eternamente
Ficar à beira do cais…

8-10-07

Obituário

Este é o meu obituário.
Sei que estou vivo,
Passageiramente ordinário
Ser humano que sou cativo

De uma prisão que eu próprio ergui,
De um rumo que tracei,
De uma vida que construí,
E em que me estreitei.

Sem que Deus, porém, me desse vistas largas
Uma liberdade misericordiosa de cobrir as faltas
De uma massa aderente repleta de perdão
Que, afectivamente, constitui o meu coração.

Redimi-me, recriei-me.
Morri e ressuscitei.
Quem fui eu?
Sei que amei, nada mais sei.

30-1-07

Monday, July 21, 2008

Compilação II

Coisas mais antigas:

Omiti as mais "sentimentais", em especial as que estão dirigidas a alguém em concreto.

As palavras são vãs
Vã é também a alma
Quando não tem a lucidez e a calma
De regressar à origem das suas manhãs

De claridade e de vida,
De felicidade esqucida
Que se ocultam por trás do seu ser.

E se perpétua, sem querer
O existencial vazio do nada,
Por que a plenitude aparecida é renegada.

Correm os dias assim soltos,
Vazios de tudo, cheios do que não sei
E retornam, desenvoltos
Àquilo por que já passei...

Não há um eterno retorno
Que se consume num raio de luz?
Tudo se contradiz, o que reluz
É o logro de um falso adorno

Que esconde a verdadeira face do ser.
Se a força existe, é pureza,
Se existe é pura incerteza,
É a dúvida de conhecer.

O vazio humilha, repudia
Porque algo de mais existe.
Se não, como teria alegria
Em lugar do que hoje me faz triste?

Deus é quem existe? Resta, revelada,
Um pouco da sua essência?
Ademais, sobeja a paciência
De uma existência eternamente adiada...

Quando, essa que me prometes e que espero?
Quando, a que auguro e pressinto sem ver?
Hoje e sempre – me dizes – tenho o vero
Condão de novamente renascer.

1-12-06

Coisas funestas da vida e da morte,
Discussões duras e acesas,
Insultos da pior sorte.

São estas as indelicadezas
Que fazem o coração forte
E alheio à sua natureza.

É esta a cisão, é este o corte
Que fere letalmente a minha pureza.

Soa em mim do remorso o clamor,
Chora a alma pelas ofensas indevidas,
Dói a futilidade das questões esquecidas.

Subsiste ainda assim o fervor
Das paixões acérrimas, embora sofridas;
Causa de bem e mal, és tu: Amor.

4-4-06

Na calma cintilante da maresia
Que é a cidade nocturna a brilhar,
Vislumbro do futuro esse meu dia
Em que me hei-de desnudar.

Dia, sagrado pela força de milénios...
Escondido, abafado pelo meu ser
Em que é visceral, profundo reviver
Do que me é sem ser. Génios

Quantos captam em si linguagens cerradas
Que s’entrecruzam, antes da alvorada.
Quantos o sentem na pele desnudada,
Sem fúrias caladas...

Há genialidade no Homem fundada,
Outra que a sua própria existência?
De que outra fonte, que outra essência
Brota a pureza imaculada?

Que assunção se debate, limiar da vida
No sedutor auspício da revelação?
Que sopro leve, que fascinação
Me evoca esta memória querida

Que hoje e para sempre revivida
Me engrandece e verga perante mim?
Quem me habita e me seduz assim,
Nesta minha alma perdida?

Amor uno, eterno, incondicional:
As míseras palavras o não alcançam.
Gestos repletos de tensão existencial
Dêem vida aos que não descansam!

Interrogação fatal, perpétua talvez
Permaneça tingida na cor do meu ser.
Seja a resposta eterno aparecer
Como o do Verbo, que um dia se fez!

13-9-06

Meu Deus,
Porque sois tão distante?
Perdido na escuridão
Neste mundo, errante,
Ansisoso pelo teu perdão,
Sou um ser expectante.

Turvado pela futilidade a que me sujeito,
Heremético na assunção desta vida,
Desespero pela tua mão querida,
Sob a luz do teu explendor te espreito.

Dá-me Senhor hoje novos horizontes,
Além da efémera e esquecida vivência,
Que aos outros seja dádiva a minha liberdade.

Que no deserto da mediocridade sejam fontes
De uma nova etérea experiência
Da autêntica e gratuita santidade.

15-2-06

Na serenidade leda da manhã
Reluz o belo rosto, delicado.
Terna vontade, alegria sã,
Fazem-me sentir doce e amado.

O dia em que te vejo corada
Pelo riso ardente da tua alma
Pela voz cadente, pela tua calma
De rosa colhida e desfolhada

Que em mim irradia esse odor
Do afecto de uma luz desvendada,
Brilhando na escuridão da vida.

Haja verso, palavra aparecida
Numa inspiração arrebatada
Que descreva tão sublime Amor!

17-5-06

É noite fria e escura
Neste lugar crispado
No alto cintila a luz segura
Do céu estrelado

Sinto a brisa suave que me afaga
Muito embora náo a sinta.
Pois não há quem na minha alma apague
Luz tão clara e tão distinta.

Na verdade nem a noite vejo.
Somente a persinto no pensamento
Como a pureza que almejo,
Como a plenitude do entendimento.

De um Ser presente mas distante
Persistente mas relutante,
Conquanto me oponho, me afasto.
Inócuo sonho! De um verde pasto

Que nele me firme para a eternidade.
Oh loucura, oh mocidade
Hoje me enche as veias de fulgor...
Será que esse devaneio é Amor?

11-2-06

Noite quente e serena,
Calma pentrante e tranquila,
Trouxe-a a brisa amena
A luz da estrela que cintila.

Remiscência de paz
No pensamento perdida
Vontade desejada mas esquecida.
Ofuscou-a a sociedade estulta,
Sua alma oculta, enfim incapaz.

Tua vinda espero ardentemente
Tua falta sinto com pesar
No mundo profano e demente
És único guia na vontade de amar.

Jesus de Nazaré é o teu nome.
Tua nascença vem de ser celebrada.
Crença esquecida, jamais reavivada,
Pois que a celebração perdeu seu motivo
A ociosidade reina, por entre a fome
Simula, representa o ambiente festivo.

Mas hoje tudo se detém
Se converte por força da tua fé,
Se renova na tua Paz universal.

Minha alma se prostra, de Ti advém
E o restício profundo deste Natal
É a força que me mantém de pé.

8-10-07

Noite triste obscura
Cruel e amarga dureza
É a que emerge da fina doçura
Da mais sublime delicadeza.

Por entre o nobre sentimento,
O silêncio da penumbra se eleva.
Sobeja solidão e esquecimento;
Onde havia amor, há agora treva.

Resta como ideia no pensamento
A lucidez da união apartada,
Destroçada sem temor ou piedade.

Estreita enfim é esta saudade!
A amargura, a dor, o confrangimento
De duas almas perdidas no vazio do nada.

11-11-05

Noites de solidão,
Lenta penumbra,
Escuridão,
Sob a qual nada se vislumbra
Senão a ténue sombra da podridão.

Estrelas,
Em todo o seu esplendor,
Repletas de brilho, luz e emoção,
Me fazem lembrar todas aqulelas
Noites em que o meu amor
Foi fraco na sua percpepção

Incapaz, incompetente
Displicente, ingénuo ou apenas omisso,
Alheio, indiferente.
Mas que atitude perante esta gente,
Que amor é esse que tanto cobiço?

E se tanto o almejo
Porquê impotente,
Hoje assisto à desagregação?

Por que, se é triste o que vejo,
Não é imponente
A minha intrevenção?

Fraquezas do carácter humano,
Débil assunção essa,
Dúbia rectidão...
Uma nova e eterna vida que começa,
Hoje e sempre que neste espírito mundano
Haja esperança de etérea salvação.

15-2-06

Pequena e frágil criatura,
Tão digna aos olhos de Deus,
Perdoa quem te profana a alvura
Pura de quem vem dos Céus...

Perdoa a intolerância rude
A fétida obstinação
De quem não pôde como eu pude
Olhar a tua criação

Vendo-a sempre, com coerência,
Sendo constante e presente,
Complacente perante a gente
Que falece sem complacência.

Enfim vendo, como em tudo
Com a larga vista do Criador
Sabendo que ele criou, contudo,
O Homem num acto de Amor.

O Homem – da concepção à maternidade,
Ao sofrimento da violada virgindade!
Ao abandono, à exclusão, à clandestinidade!
Ao suborno da dignidade!

Sempre. Digno até ao fim. Quanto ser possa.
Contra a dura humana troça.
Mas não contra a condição sua,
Tão verdadeira quanto nua

No extremo da aflição.
Não basta haver perdão.
Urge haver inclusão
Para que um dia chegue, o da opção,
O da libertação
Da tua vida,
Meu irmão!

N.A. O poema não tem qualquer implicação sobre a posição que assumi por altura do referendo da IVG)

27-2-06

Sublime e relutante penumbra,
Reflexo de pureza e solidão,
Sob a luz das estrelas se vislumbra
O brilho ofuscante da podridão.

No céu, quieto e escuro,
Transparece a apatia de uma nação,
A indiferença da multidão,
A humanidade, o carácter inseguro

Deste mundo que aqui
Me chama intensa e vivamente.
Agir, hoje, agora....

Espero por Ti,
Ardentemente.....
E esta noite vou daqui para fora.

26-6-05

Hei-de compilar mais...

Área poética

Introduzo aqui a área poética deste blogue, com a primeira de algumas compilações - a mais recente:

I

Vou voltar a casa.
Farto de auto-estradas de nojo e andamento.
Volto ao meu velho e renovado contentamento,
Ao fogo que me abrasa…

Quero chegar à próxima saída!
Não posso mais conter,
Nem ficcionar, fazer desaparecer
A vontade de viver
O futuro do passado da minha vida!

Decidir, eis o que quero;
Sentir que estou ao leme,
E que nenhum cruzeiro pode ser sincero
Na alma de quem já não teme…

E o mundo que me deixe
Viver mundanamente à minha maneira!
Não há porta que se feche,
No mundo da minha vida derradeira!

Já sinto o calor da lucidez retornada…
Ah, esse estar na Cruz com um sorriso rasgado,
O quanto invejo esse alívio sagrado,
De volta à primeira estrada…


Há um excesso de certeza,
Ilegal aos olhos do Tempo Perdido,
Que atravessa os momentos de sageza
E o original pecado de ser esclarecido.

Quero não saber, quero descobrir.
Quem posso ser, para onde vou…
Sei apenas que um dia hei-de partir,
À procura de quem nunca me encontrou…

Por enquanto fico no meu lar.
É de lá que partem todas as estradas
De ser de viver e de amar;
É lá que as fúrias são caladas.

Não quero quem viva por mim.
Nem sequer me indique o caminho…
Quero decidir assim,
Frágil e sentintemente sozinho…

Descobrir afinal nunca ter saído
De casa, senão na imaginação!
Acordar de um pesadelo repetido,
Vezes sem conta no meu coração!

II

Não há equilíbrio macroexistencial que resista
Nem álgebras de x’s e y’s sentimentais
Que retenham a ilusão derrotista
Que vaga nos meus salões virginais…

Nem há solução geral
Para o problema sempre concreto e particular,
Da luta do Bem contra o Mal
A cada passo do meu andar.

Nem sequer tempo que suprima
A carência de saber, dominar
Aquilo que me puxa para cima
Sem que o saiba alguma vez explicar…

Porque o não sei?
E é sempre virgem a minha consciência amedrontada…
Não reconheço perfeição e sentido no que andei,
Não pressinto o destino da minha caminhada.

Que sei afinal deste microproblema de Amar e ser?
Carece de uma equação geral de empenho no viver,
De uma correcção particular a cada dia,
De uma revelação sempre inexplorada e sadia….

Mais que tudo carece de incerteza,
De não-saber, de andar às escuras,
Pois é certo que da vã pobreza
Nascem da esperança as fontes mais puras.

Friday, June 27, 2008

Bem-vindos

Estou a inaugurar este blogue. Vou torná-lo um espaço de partilha e reflexão, desde logo sobre temas da actualidade, mas também (e sobretudo?) sobre temas mais "filosóficos".